As múltiplas faces de uma incoerência humana

29 novembro 2006

Eu, o entrevistador

Adoro promoções. Não todas. Só aquelas que oferecem a oportunidade de conhecer outros lugares. E aquelas, evidentemente, que o prêmio me interessa. Mas estas são mais raras. Aquelas são mais interessantes. Já participei de uma promoção do ColdPlay(não pergunte quem são) só porque teria um show deles em Londres. Participei não por causa do grupo musical, mas sim por causa de Londres. E do celular que eles ofereciam, claro.
Participei de uma estes dias. Da BBC Brasil. Perguntava quais assuntos pelos quais eu me interessava ou qual seria meu entrevistado, caso eu pudesse escolher. O ganhador vai para Londres conhecer os estúdios da BBC, participa de um programa da rede e vai para São Paulo conhecer a CBN. Essa promoção uniu o útil ao agradável: poderei conhecer um dos maiores órgãos de imprensa do mundo e ainda conhecerei Londres. Não precisa ser um gênio para saber que meu entrevistado seria Lula. Colocarei os meus questionamentos aqui:
-O Ministério da Defesa enviou um relatório ao seu gabinete em 2003, avisando que, caso não se investisse no setor aéreo, teríamos um caos. Por que esse relatório foi ignorado?
-O seu partido tentou criar o Conselho Federal de Jornalismo, que iria controlar a imprensa. Vossa Excelência quase caçou a cidadania do jornalista do The New York Times que insinuou que o senhor exagerava na bebida. O seu comitê eleitoral censurou um comentário de Arnaldo Jabor feito à rádio CBN. Qual a sua opinião sobre a imprensa?
-Na campanha presidencial, o senhor criticou as privatizações da era FHC. Porém, é fato que a telefonia, por exemplo, melhorou apenas quando passou à iniciativa privada. Se o senhor critica tanto as privatizações, porque não reestatizou as empresas privatizadas?
- A Polícia Federal disse, em relatório preliminar, que o dossiê anti-tucano teve dirigentes do PT nacional envolvidos. O senhor ainda sustenta a insinuação de que o dossiê poderia ser obra da própria oposição?
-O senhor diz que seu governo foi um exemplo de ética. Porém, partidos como PTB e PL, que estavam no epicentro do mensalão, irão compor a sua base aliada no segundo mandato. Isso é ético?
-O senhor sempre disse que não soube do mensalão e que, assim que soube, mandou investigar. Porém, a base governista tentou abafar, sem sucesso, as CPIs que investigaram o caso. O sistema de inteligência brasileiro não lhe avisou de nenhuma movimentação atípica? Em caso negativo, por que pagamos esse sistema?
-O senhor diz que o salto na carreira empresarial de seu filho, o "Lulinha", foi totalmente lícito, e que não houve favorecimento por parte da Telemar nos investimentos na empresa de seu filho. O senhor acha que caso eu pedisse um patrocínio à Telemar para um projeto meu, eu obteria o mesmo valor obtido por seu filho?
-Voltando à questão do mensalão. O senhor disse afastou Ricardo Berzoini da coordenação de sua campanha á reeleição porque Berzoini não viu "coisas que aconteciam debaixo do seu nariz", no caso do dossiê. Não foi isso que aconteceu no caso do mensalão: o senhor não deixou de ver "coisas que aconteciam debaixo do seu nariz"?
-Vossa Excelência sempre diz que a política externa brasileira é um sucesso. No caso das geladeiras na Argentina e no caso dos hidrocarbonetos na Bolívia o senhor acha que a política externa foi um sucesso?
- Em seu governo, as negociações para a Alça foram paralisadas, parte por causa da rejeição dos norte-americanos em reduzir tarifas alfandegárias dos produtos agrícolas, parte por causa intransigência dos brasileiros na redução de tarifas de produtos industrializados dos EUA. O senhor acha que ter abandonado a ALCA foi uma decisão sábia?
- O crescimento econômico brasileiro foi pífio durante seu governo. O mundo crescia a 5% ao ano, enquanto o Brasil patinava em 3% ao ano. O cenário internacional era extremamente favorável, mas o Brasil não aproveitou. O que o faz pensar que teremos, no segundo mandato, um crescimento maior?
- Saiu na imprensa que parte da operação “tapa-buracos” teve, em quase 60% dos casos, irregularidades nas licitações. Sabe-se também que as obras foram mal feitas e que as estradas reformadas estão voltando ao patamar anterior. Essa operação foi uma medida eleitoreira? Teremos uma operação “tapa-buracos” ano que vem, já que as estradas estão num nível parecido ao do ano passado? Em vez de ter feito essa operação, por que não se investiu na melhora permanente das estradas, ou em transporte de cargas alternativos, fazendo, assim, o Brasil deixar de depender de carretas?

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