Carta aberta ao professor Marcos Silvério.
Sei, faz algum tempo, que suas aulas não primam pela imparcialidade dos temas. Sei que as matérias dadas, e como elas são dadas, têm uma forte tendência anti-capitalista. Já me acostumei com isso. Porém, na última aula, do dia 28/11 deste ano, o que foi dito não pode passar sem resposta.
Duas coisas ditas pelo caro professor foram incorretas, ao meu ponto de ver. A primeira é que o NAFTA foi maléfico para o México, e serviu apenas para aumentar o domínio dos EUA em cima do pobre México. A segunda foi que a quebra de contratos da Bolívia com a Petrobras, ocorrida em maio deste ano, não iria trazer prejuízos para o país. Tentarei mostrar porque essas teses não resistem a uma pesquisa mais profunda.
O NAFTA, assinado em 1994, engloba México, EUA e Canadá. Até hoje se contesta o acordo, principalmente nos países da América Latina, onde a esquerda conquistou, em grande parte do território, a hegemonia cultural e política. Porém, no México, único país latino-americano afetado diretamente pelo acordo, acha que o NAFTA foi vantajoso para o país. De fato, o governo mexicano espera ampliar o NAFTA para outros países, como o Chile. O modelo econômico adotado pelo México é parecido com o chileno, baseado em tratados de livre comércio.
O crescimento mexicano cinco anos após a assinatura do tratado foi em média 5% ao ano. Para efeitos comparativos, nos cinco anos anteriores a assinatura a média foi de 3%. E no primeiro ano de tratado, o México foi afetado por uma crise econômica, mas logo se recuperou. Analistas afirmam que a rápida recuperação se deve, em grande parte, pela economia aberta do México. O crescimento diminuiu depois de 1997, mas isso se deve a instabilidade econômica que rondou a Ásia, Rússia e Brasil na virada do milênio.
Os investimentos estrangeiros somaram, em 2004, 16 bi de dólares. Desses, 9 bilhões foram oriundos dos países parceiros do NAFTA. Antes do tratado, eram apenas 2 bilhões de dólares.
A balança comercial com os países membros do NAFTA mudou drasticamente. Na época pré-NAFTA, havia um déficit de 3,7 bi de dólares. Agora, depois do tratado, o México tem um superávit de 57,8 bi de dólares.
As relações mexicanas com os Estados Unidos são muito promissoras. Os mexicanos acham que o mercado de seu vizinho é promissor e julga que está na frente de seus concorrentes emergentes, como Brasil, China e Argentina. 10% das importações dos Estados Unidos são originárias de seu vizinho de baixo. E 13% das exportações têm o México como destino.
Não serei ingênuo a ponto de dizer que o NAFTA só trouxe benefícios para o México. A agricultura perdeu muito com o NAFTA, pois a produção mexicana era artesanal, se comparada à modernidade das fazendas norte-americanas. E ainda há o problema das maquiladoras e das imigrações ilegais.
Porém, é inegável que o NAFTA trouxe ao México um crescimento econômico sustentável e estável. Aliado a políticas maduras, o NAFTA elevou o México como um país promissor, que conta com um mercado consumidor de mais de 300 milhões de pessoas com restrições menores de que outros países. O professor é adepto daquela frase de um ex-ditador mexicano: “Pobre México, tão longe de Deus e tão perto dos Estados Unidos”. Os mexicanos tiveram uma visão mais apurada. E se deram melhor.
Sobre a Petrobrás, não é necessário toda uma explicação. Com a quebra de contratos feita unilateralmente por Evo Morales, a Petrobras se arriscou a perder um bilhão de dólares em investimentos. Seria repugnante se não houvesse um fator adicional: a Petrobras é estatal. E aqui não se discute se ela deveria ou não ser privatizada, mas sim que ela é estatal e que, portanto, tem dinheiro de milhões de contribuintes. Ao falar que os investimentos realizados pela Petrobras seriam dispensáveis, o professor insinua que um bilhão de dólares do contribuinte brasileiro poderia ser jogado pela janela.
Claro que é não defendo a tese de que o Brasil deveria invadir a Bolívia, como alguns chegaram a sugerir. Mas não se poderia ficar quieto diante da situação, como aconteceu. O presidente da Petrobras foi o único governista a espernear contra o roubo. Em vão. Na última hora, aceitou mudar o contrato da Petrobras com a Bolívia, e aceitando um aumento do gás.
É bom deixar claro que, ao escrever essa carta, não tenho nenhuma pretensão pessoal. Não quero malhá-lo porque o odeio. Muitos atribuem a minha discussão com o senhor por motivos pessoais. Nada disso. Se não o considero um excelente professor, o contrário também não é verdade. Só tento contribuir para transformar o debate em algo construtivo. E afirmações como “o neoliberalismo é ruim para o Brasil” e coisas do gênero, soltas no ar sem argumentação alguma, não acrescentam nada ao debate.
Espero ter acrescentado algo ao debate. Sem mais delongas.
Anderson Schein
Duas coisas ditas pelo caro professor foram incorretas, ao meu ponto de ver. A primeira é que o NAFTA foi maléfico para o México, e serviu apenas para aumentar o domínio dos EUA em cima do pobre México. A segunda foi que a quebra de contratos da Bolívia com a Petrobras, ocorrida em maio deste ano, não iria trazer prejuízos para o país. Tentarei mostrar porque essas teses não resistem a uma pesquisa mais profunda.
O NAFTA, assinado em 1994, engloba México, EUA e Canadá. Até hoje se contesta o acordo, principalmente nos países da América Latina, onde a esquerda conquistou, em grande parte do território, a hegemonia cultural e política. Porém, no México, único país latino-americano afetado diretamente pelo acordo, acha que o NAFTA foi vantajoso para o país. De fato, o governo mexicano espera ampliar o NAFTA para outros países, como o Chile. O modelo econômico adotado pelo México é parecido com o chileno, baseado em tratados de livre comércio.
O crescimento mexicano cinco anos após a assinatura do tratado foi em média 5% ao ano. Para efeitos comparativos, nos cinco anos anteriores a assinatura a média foi de 3%. E no primeiro ano de tratado, o México foi afetado por uma crise econômica, mas logo se recuperou. Analistas afirmam que a rápida recuperação se deve, em grande parte, pela economia aberta do México. O crescimento diminuiu depois de 1997, mas isso se deve a instabilidade econômica que rondou a Ásia, Rússia e Brasil na virada do milênio.
Os investimentos estrangeiros somaram, em 2004, 16 bi de dólares. Desses, 9 bilhões foram oriundos dos países parceiros do NAFTA. Antes do tratado, eram apenas 2 bilhões de dólares.
A balança comercial com os países membros do NAFTA mudou drasticamente. Na época pré-NAFTA, havia um déficit de 3,7 bi de dólares. Agora, depois do tratado, o México tem um superávit de 57,8 bi de dólares.
As relações mexicanas com os Estados Unidos são muito promissoras. Os mexicanos acham que o mercado de seu vizinho é promissor e julga que está na frente de seus concorrentes emergentes, como Brasil, China e Argentina. 10% das importações dos Estados Unidos são originárias de seu vizinho de baixo. E 13% das exportações têm o México como destino.
Não serei ingênuo a ponto de dizer que o NAFTA só trouxe benefícios para o México. A agricultura perdeu muito com o NAFTA, pois a produção mexicana era artesanal, se comparada à modernidade das fazendas norte-americanas. E ainda há o problema das maquiladoras e das imigrações ilegais.
Porém, é inegável que o NAFTA trouxe ao México um crescimento econômico sustentável e estável. Aliado a políticas maduras, o NAFTA elevou o México como um país promissor, que conta com um mercado consumidor de mais de 300 milhões de pessoas com restrições menores de que outros países. O professor é adepto daquela frase de um ex-ditador mexicano: “Pobre México, tão longe de Deus e tão perto dos Estados Unidos”. Os mexicanos tiveram uma visão mais apurada. E se deram melhor.
Sobre a Petrobrás, não é necessário toda uma explicação. Com a quebra de contratos feita unilateralmente por Evo Morales, a Petrobras se arriscou a perder um bilhão de dólares em investimentos. Seria repugnante se não houvesse um fator adicional: a Petrobras é estatal. E aqui não se discute se ela deveria ou não ser privatizada, mas sim que ela é estatal e que, portanto, tem dinheiro de milhões de contribuintes. Ao falar que os investimentos realizados pela Petrobras seriam dispensáveis, o professor insinua que um bilhão de dólares do contribuinte brasileiro poderia ser jogado pela janela.
Claro que é não defendo a tese de que o Brasil deveria invadir a Bolívia, como alguns chegaram a sugerir. Mas não se poderia ficar quieto diante da situação, como aconteceu. O presidente da Petrobras foi o único governista a espernear contra o roubo. Em vão. Na última hora, aceitou mudar o contrato da Petrobras com a Bolívia, e aceitando um aumento do gás.
É bom deixar claro que, ao escrever essa carta, não tenho nenhuma pretensão pessoal. Não quero malhá-lo porque o odeio. Muitos atribuem a minha discussão com o senhor por motivos pessoais. Nada disso. Se não o considero um excelente professor, o contrário também não é verdade. Só tento contribuir para transformar o debate em algo construtivo. E afirmações como “o neoliberalismo é ruim para o Brasil” e coisas do gênero, soltas no ar sem argumentação alguma, não acrescentam nada ao debate.
Espero ter acrescentado algo ao debate. Sem mais delongas.
Anderson Schein
1 Comments:
At domingo, dezembro 10, 2006 11:22:00 AM, Anônimo said…
o cara é fdp demais!
e a resposta dele foi só pra penultima frase...
e ele deveria ter lido tudo isso em voz alta!
pq quem ele alienou, ainta ta alienadomas eu concordo com ele
só que sem falar tanta bos$#%... nao discutirei nada por falta de informação
andreas
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